sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Cordel: ''Vamos falar de preconceito!'', por Amanda Rocco




 Fale de preconceito
 E todo mundo vai negar...
"O negro já tem muito direito
 E já é crime intolerar"

Para mim, despeito.
Basta querer enxergar
Isso tudo só é conceito
A prática é de lamentar.
Tratam como se fosse defeito.
Diariamente acontece, não é difícil presenciar
Cenas de desrespeito
Onde brancos, pela cor, acham que podem humilhar.
O guri fica sem jeito
Como se fosse suspeito
Pessoas em volta entregam o sentimento pelo olhar.

Século 21 mas não é difícil escutar
"Ih, mas casou com preto?"
"Vamos rezar, para a mãe puxar. "

Nasceu! Ela podia ser um pouco mais clara né!? Mas não dá para mudar.
Agora o cabelo... Ah... Vai ter que alisar!
E o nariz achatado!?
Ih pequena, vai te entregar.

No natal ganha boneca, mas nem adianta se alegrar
Afinal não há boneca que possa te representar.

Começa a estudar, escola particular
E da sua sala é a única negra
Não será fácil se encaixar.
Logo no primeiro mês, já dá para notar
Os "amiguinhos" apelidam, e não a deixam brincar.
Ela por medo prefere não falar.

Faz desenho no caderno
Para a professora admirar
Se desenha loira de olho azul
Ainda não consegue se amar.

Ela cresce
E ai? Será que vai conseguir namorar?
Para de comer tranqueira! Se não vai engordar... Já não é bonita, vai piorar...
Ela quer clarear, quer alisar, quer mudar...

Até que um dia ela para.

De pouquinho em pouquinho começa a se amar.
Percebe que o feio era o preconceito no ar.

Percebe que sua identidade
Possui força exemplar,
Firmada na coragem
É de se admirar.

Hoje, se perguntarem, ela não vai se calar.
De toda sua história ela pode se orgulhar.
Uma menina LINDA, cheia de luz para dar.
Por toda sua garra que teve para lutar, ela, daquela sala é a que mais pode ensinar.

Tal cordel eu fiz, por pura indignação.
Ninguém costuma falar "do dia seguinte da abolição".
As pessoas tapam os olhos e ouvidos perante tal situação.
Afinal é mais cômodo. À empatia dizem não.
O que acontece hoje é puro egoísmo.
Essa é a única conclusão.

E não venha de atrevido
É dever o respeito devido
Por tudo que os negros e as negras tem promovido.

                                                                                Amanda Rocco

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